quarta-feira, 24 de agosto de 2011

HÉLIO OITICICA

 

“A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro: um sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra. Basta um toque, nada mais”

Carioca anarquista, Oiticica nasceu no Rio de janeiro em 26 de Julho de 1937 e faleceu nesta mesma cidade no dia 22 de março de 1980 após sofrer um AVC.

Foi pintor, escultor, artista plástico e performático.

Através de sua obra e do processo de comunicação que elas provocavam no público, podemos dizer que ele tinha como objetivo criar uma integração de sentidos e de conceitos. Sua obra era sempre uma experiência viva. Eram inseridas nas realidades cotidianas dos espectadores. Sua máxima tentativa de integração do público com a sua arte foi quando inseriu a Comunidade da Mangueira em sua obra quando seus parangolés foram “vestidos” por moradores da Comunidade e se apresentaram numa exposição no Rio de Janeiro no Museu de Arte Moderna no ano de 1965. Nesta ocasião ele foi expulso do MAM. Eram como quadros vivos, andantes, interagindo com o ambiente, com os espectadores, com as relações humanas. Seus painéis que eram pendurados em fios de nylon e pintados com cores fortes também permitiam diversas leituras da obra pois o espectador tinha várias “visões” da obra de arte.

Seu avô José Oiticica era filólogo e anarquista, influenciou sua formação. Por opção familiar, não frequentou escolas na infância. Recebeu educação formal a partir de 1947, quando seu pai, o fotógrafo e docente da Faculdade de Medicina e do Museu Nacional da Universidade do Brasil, José Oiticica Filho, ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim e a família se transferiu para Washington, nos Estados Unidos.

Ao voltar para o Brasil, Hélio Oiticica iniciou, em 1954, estudos de pintura com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. Essas aulas foram essenciais porque possibilitaram a Oiticica o contato com materiais variados (plástico, madeira, vidro, tecido, papel....) dando-lhe total liberdade de criação.

A sua obra é caracterizada pelos seus “Parangolés”. Estes foram criados como estandartes ou bandeiras coloridas, com poemas em tinta sobre o tecido, a serem vestidas ou carregadas pelo público que participava e ainda participa de suas exposições. Era como uma forma de tornar a arte ainda mais viva. A sua PINTURA AMBULANTE ou ESCULTURA MÓVEL.

Foi também Hélio Oiticica que fez o penetrável Tropicália, que não só inspirou o nome, mas também ajudou a consolidar a estética do movimento tropicalista na música brasileira, (Gal Costa, Caetano, Gilberto Gil....) nos anos 1960 e 1970.

Em 1960 criou os primeiros NÚCLEOS, também denominados MANIFESTAÇÕES AMBIENTAIS e PENETRÁVEIS, placas de madeira pintadas com cores quentes penduradas no teto por fios de nylon. Neles, tanto o deslocamento do espectador quanto a movimentação das placas passam a integrar a experiência.

Em 1961 Hélio cria o seu primeiro LABIRINTO. Outro exemplo de suas criações que conquistaram não só o Brasil mas também o mundo.

Outras de suas criações são os bólides, recipientes cheios de pigmento que trazem a cidade para uma mostra de arte. Um conjunto tem água da Praia de Ipanema e o asfalto da Avenida Presidente Vargas, "que espreitam o espaço" e esperando o público para detonar experiências estéticas.

Em 1959, fundou o Grupo Neoconcreto, ao lado de artistas como Amilcar de Castro, Lygia Clark, Lygia Pape e Franz Weissmann. Transitou entre os morros do Rio de Janeiro e os Estados Unidos, onde morou de 1948 a 1950, época em que se mudou com a família, e a partir de 1970, quando foi para Nova York.

Oiticica também integrou a representação do Brasil na Exposição Internacional de Arte Concreta, realizada em 1960, em Zurique, na Suíça, e esteve presente nas coletivas de vanguarda Opinião 65 e Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira e Vanguarda Brasileira, realizadas entre 1965 e 1967, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. O artista também participou das bienais de São Paulo (1957, 1959 e 1965) e da Bahia (1966).

Em 16 de outubro de 2009, um incêndio destruiu cerca de duas mil obras do artista plástico - aproximadamente 90% do acervo (avaliado em 200 milhões de dólares), que era mantido na residência do seu irmão, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Além de quadros e dos famosos "parangolés", no local também eram guardados documentários e livros sobre o artista.

Uma grande parte dos documentos de Hélio Oiticica perdidos no incêndio foram preservados pela digitalização realizada pelo Programa Hélio Oiticica, coordenado pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado e desenvolvido em uma parceria entre o Instituto Itaú Cultural e o Projeto Hélio Oiticica.

Sua produção se destaca pelo caráter experimental e inovador. Seus experimentos pressupõem uma ativa participação do público, são, em grande parte, acompanhados de elaborações teóricas, comumente com a presença de textos, comentários e poemas.

Em 1957, inicia a série de guaches sobre papel denominada, nos anos 70, Metaesquemas. Segundo Oiticica, essas pinturas geométricas são importantes por já apresentar o conflito entre o espaço pictórico e o espaço extra-pictórico.

O PROJETO ÉDEN é composto de Tendas, Bóloides e Parangolés como proposições abertas para a participação e vivências individuais e coletivas. É apresentado em Londres em 1969, na Whitechapel Gallery. Considerada sua maior exposição em vida, é organizada pelo crítico inglês Guy Brett e apelidade de Whitechapel Experience. Era uma utopia de vida em comunidade e aí surge a proposição CRELAZER, ligada à percepção criativa do lazer não repressivo e à valorização do ócio.

Em 1970 no MOMA de New York Hélio criou a exposição INFORMATION, onde desenvolveu a ideia de NINHOS como células em multiplicação ligadas ao crescimento da comunidade.

Hélio voltou ao Brasil em 1978 e participou de alguns eventos coletivos como: Mitos Vadios, organizado pelo artista plástico Ivald Granato. No ano seguinte organiza o acontecimento poético-urbano CAJU-KLEEMANIA, proposta para participação coletiva no bairro do Caju no Rio de janeiro.


Labirinto – Hélio Oiticica

Parangolé, Hélio Oiticica



Ninho, Hélio Oiticica

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CASA ARRUMADA À MODA DRUMMONDIANA




Carlos Drummond de Andrade


"Casa arrumada é assim:

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas… Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.

Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa.

E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança. Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.

A que está sempre pronta pros amigos, filhos…

Netos, pros vizinhos… E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente. Arrume a sua casa todos os dias…

Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela… E reconhecer nela o seu lugar."



Quero reconhecer a minha casa como o MEU LUGAR.